quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Neiliane Araújo: Entre fios, tecendo rios.



Neiliane Araújo. "Varal 16". Colagem digital e Desenho. 2010.

Entre uma ponta e a outra, o fio que tece o Varal suporta os mais diversos objetos do cotidiano, curiosamente "expostos ao sol". A artista trabalha a idéia do "secamento" dos objetos - sentimentos, com a série Vou deixar Secando: desenhos sobre fotografia, ou apenas sobre papel.
O percurso da arte de Neiliane caminhou por terrenos como a Instalação e o Site Specific, além de momentâneas ações urbanas. Porém, o momento atual - ou melhor, dos últimos dois anos de trabalho - são as experimentações com o desenho. Dentre as facetas que lhe apresentou o desenho, podendo ser inclusive digital, sua fascinação por linhas resulta em temáticas que vão mais além do que o próprio conceito de desenhar.



  Neiliane Araújo. "Varal 18". Colagem digital e Desenho. 2010.

Em seus trabalhos determina suas indecisões, angustias ou certezas por meio do objeto exportado para o papel, com leveza. A idéia do varal sugere um momento de reflexão, muitas vezes situações corriqueiras trazem a sua carga de cobrança de um "algo" que não se pode dar. O melhor, para a artista, é pendurar qualquer incerteza no varal, pois o tempo e o sol secarão o impasse:

Colecionei uma série de elementos capazes de embaraçar o passo da dança. Imaginei que tivessem assistentes e estes, enfim, compareceram também ao cenário que criei. Atuam como símbolos da circunstância. Todos serão estendidos no varal.
Secando: ação contínua. Do mesmo modo que os estendo, os prorrogo e amplio sua contingência e sua posição no universo. (Neiliane Araújo)



 
  Neiliane Araújo. "Ainda que eu tivesse asas, escolheria emaranhar-me". Colagem. 2007.


Em outras produções fez uso da colagem para significar o sentimento contínuo de fio. Os pássaros são recorrentes em sua obra transferindo a eles a metáfora de uma liberdade consciente. Neiliane e sua poética se misturam como a vida e a arte. Nas colagens fez uso do fio de arame e objetos de plásticos sobre o papel paraná. A dimensão é outra, porém, a presença do Varal já era uma antecipação à tudo o que estava por vir. 
A arte de Neiliane é poesia. Sua linguagem comunica de forma sutil a construção do auto-conhecimento em breves avisos.

Qual é o seu preconceito com a auto-ajuda?
Eu ainda tenho os meus, bem guardados aqui. Faço uso deles quando para uso são.
De pareceres insensatos, bastam-me os elementos estendidos no varal. (Neiliane Araújo)

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Neiliane Araújo, brasiliense, 28 anos.
Formou-se pela Universidade de Brasília em
Artes Plásticas, 2006.
Vive e trabalha em São Paulo, SP.


2 comentários:

  1. interessante.
    até por que, dependendo da angústia (ou do varal) da pra pendurar uma montanha de coisas.
    Beijos.

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  2. Arte edificante. Mistura de poesia lírica com Neiliane.

    Adorei ler essa postagem!

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